terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Ser Mandela por um dia

Napoleão Bonaparte. Alexandre. Jesus Cristo. Leonardo da Vinci. Adolf Hitler. Maurício de Nassau. J. F. Kennedy. Martinho Lutero. Buda.

Quem você gostaria de ser se pudesse um dia se comparar a um grande nome da história do mundo registrado (aquele que temos evidências de que foi fato!)?

É fato que uma mistura de desejo, sede de poder, senso de humanidade, poderiam me levar a escolher qualquer um deles. Representar uma época e o povo que viveu naquele momento histórico faz de um mortal um ícone, uma referência, um totem cravado nas entranhas do entendimento do planeta que habitamos talvez por uma grande coincidência universal. O universo e suas travessuras!

Eu queria ser Nelson Mandela. Que nome! Já pensou em um dia ser Nelson Mandela? Da comunidade para as páginas dos livros mais importantes sobre civilidade e política. Aquele que fez da luta de seus semelhantes o passaporte para se tornar a figura mais importante da História que pude constatar.



Se hoje fosse aquele negrinho Rolihlahla Mandela que acabara de nascer em  Mvezo, África do Sul, num frio 18 de julho de 1918. Com meu pai guerreiro tribal proclamando os ritos comuns à chegada de um novo rebento. Com minha mãe gemendo de dor no meio do nada. Agitando meu corpo em busca do mundo que tanto me surpreenderia.

Se tivesse de aprender uma sabedoria milenar de forma oral. Conversas sobre os antepassados que viram fantasmas nas vidas dos que preservam suas tradições. Se tivesse que ir até Qunu, frequentar uma escola regular. Se ganhasse o nome Nelson da minha professora.

Se hoje, no meu aniversário de 16 anos, fosse circuncidado com uma ponta de uma lança de ferro e gritasse: "Eu sou um homem!".

Se em Fort Hare tivesse aprendido a ser um representante negro e ouvisse meus professores dizerem que meus irmãos e eu seríamos "os líderes do nosso povo". Se fosse a hora de aprender e aprender. Inglês, antropologia, administração nativa, direito romano, holandês...

Se tivesse me engajado desde cedo e reivindicado melhorias na qualidade da comida oferecida na Universidade. Se vigiasse minas até me formar. Se caísse num buraco chamado Joanesburgo onde a cruel face da intolerância racial me mostrasse que a nobreza que meus antepassados me deixaram e o orgulho pela cor da minha pele que o mundo não era tão justo como na minha aldeia.



Queria eu estar na linha de frente contra os "ingleses" que impuseram a brutalidade do apartheid em 1949 no dia de hoje. E logo depois me tornar o nome de toda uma nação clamando por igualdade de direitos. De desejar a natureza da minha terra e de desfilar nas riquezas do meu solo (que não são monetárias, mas sim espirituais). Falar o meu dialeto. Usar as cores que preferisse em minhas roupas. Andar pela minha Soweto.

Queria ser Mandela para empunhar a "Lança de uma Nação" e chegar a conclusão que um discurso de paz e entendimento já não seria suficiente, mas continuar acreditando que aquele caminho desacreditado sempre seria a escolha correta para se conquistar uma terra de igualdade. E em Rivonia virar preso perpétuo. O prisioneiro 46664.

Queria hoje ser preso. Ficar na minha Ilha de Robben por 18 anos ou mais.

Nelson Mandela hoje me faria humanizar um pouco mais o mundo. Refletir sobre que caminhos estamos traçando diante de tanta injustiça e desigualdade. Talvez o Mandela que habitaria em mim deixaria um diário de memórias de quantas pedras seria obrigado a quebrar, quantas noites de frio teria de enfrentar e dormir no chão... e sorrir... e abraçar meu inimigo como a um irmão.

Se pudesse ser Nelson Mandela hoje, me sentiria unificador da minha própria vida e seria recebido em um estádio lotado de tolerância.



Queria ter tudo de Mandela por um dia. O olhar, o sorriso, a forma doce como demonstrou lidar com os empecilhos, as adversidades e para com aqueles que tanto odiavam o seu jeito de ser. Queria o cabelo de Mandela. As cores de Mandela. A serenidade de Mandela.

Se pudesse ser Nelson Mandela hoje, descansaria em paz no leito de quem tanto amei... minha terra, a própria vida!

Como ser Mandela é impossível, serei Mandela então no jeito de lembrar o quanto não podemos desistir de construir algo melhor. E de como somos detentores dos mecanismos para fazer a vida bem melhor, ao lado de todas as outras pessoas.

Como só um milagre faria com que fosse Mandela, uso aquilo que Mandela mais nos lembrou todos os dias de sua curta vida: o jeito mais sincero e genuíno de ser grato por tudo o que temos ao nosso redor...

Obrigado Madiba!

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